sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Desafio dos 1.000km em 10 meses.


O relato a seguir se refere ao desafio dos 1.000km em 10 meses que acabo de vencer.
Não foi fácil. No início a BR135 que já tive a oportunidade de descrever. Um bom descanso e comecei a realizar provas umas em seguida das outras.
Fui vendo que havia algo de errado quando largava para uma maratona, cheio de esperança de baixar meu tempo e me arrastava melancolicamente no final.
A cada prova meus tempos iam piorando.
Logo comecei a regurgitar e ter cãibras ao fim das maratonas.
Foi assim em São Paulo, no Rio e em Foz. Até em Curitiba, quando já não treinava mais, senti o esforço.
Há cerca de dois meses comecei a sofrer dos joelhos. O mal estar e as dores nas articulações eram novidade para mim e a explicação só podia ser uma: Excesso de treino e provas muito rigorosas.
A coisa ia piorando, até que inventei de ir para Praias e Trilhas em Florianópolis. Lá terminei com meus joelhos, meu orgulho em nunca ter desistido de uma prova, minha saúde e abdiquei dos treinos para sobreviver ao maldito desafio. Joguei fora um fim de semana e 84 Km que iriam me facilitar a vida ao fim da jornada.
Voltei ferido e disposto a fazer todas as provas que aparecessem, mesmo sem qualquer possibilidade de curtir as corridas.
Fazia uma prova no sábado e o joelho esquerdo ficava sem condições de tocar no solo. No domingo largava em último e só começava a passar alguém quando o joelho aquecia e a dor era esquecida. Prova na terça ou quarta e lá estava eu e meu joelho podre.
Cheguei à Maratona de Curitiba e juntei joelho, panturrilha e inflamação na unha do dedão, tudo na tal perna esquerda.
Com enorme sacrifício concluí a prova e ainda ganhei um lindo troféu por ter completado as 6 Maratonas brasileiras do ano.
No fim de semana seguinte já estava no Rio para as 24 horas dos Fuzileiros, na Escola Naval.
Faltavam apenas 104 km e uns poucos metros, mas não foi fácil. Muito calor, umidade e dor. Com pouco mais de 4 horas meu amigo Luciano Prado viu o meu estado e chamou seu treinador, Herói Fung, para utilizar um aparelho que dá uns choques no meu joelho.
Parei mais de meia hora, mas voltei com a articulação curada.
Ocorre que eu já parara de treinar há muito tempo e os quilômetros não corriam como antes. Já anoitecendo começaram as bolhas.
Foram duas em cada pé. Enormes, gigantescas. No Rio isto é normal, devido ao calor e a umidade que se acumula dentro dos tênis, mesmo os trocando regularmente. Uma bobeada e "creu".
O único remédio foi parar mais uma vez e furá-las.
Na madrugada nenhuma brisa e o calor era insuportável. Comecei a fazer as contas de onde eu estava e o tempo que faltava. Achei que não conseguiria. Novas contas de cabeça e concluí que não conseguiria mesmo. Lá pelas 3 horas me deitei num canto da pista e desisti da prova e do meu desafio. Ali fiquei por exatos 44 minutos, porém a solidariedade do filho do meu amigo Raul me aliviou as dores. Ele pegou seu travesseiro e colocou debaixo da minha cabeça suada, suja e fedida.
Em um dado momento resolvi me levantar e verificar até onde ainda conseguiria ir. Neste instante uma brisa vinda do mar começou a soprar. Passei a correr na direção do vento e caminhar contra. Pouco depois já conseguia correr e vários atletas passaram a fazer voltas comigo me incentivando.
O dia amanheceu e, para minha sorte, estava nublado. Quente, mas sem sol. Lá pelas 7 da manhã comecei a fazer os cálculos de novo e o pessoal da Marinha me informava o que ainda me faltava a cada intervalo de meia hora.
Seria muito difícil, mas ainda podia ser que desse. Nada mais, porém, poderia falhar.
Quando faltava pouco mais de maia hora os atletas passaram a gritar para mim e eu aumentava o ritmo a cada volta.
Faltando cerca de 5 minutos o pessoal do computador me avisou que eu conseguira atingir minha meta, mas como estava no embalo dei mais uma volta e uns metros mais, sendo cumprimentado por todos.
Ao fim, como em quase todas as ultras, chorei muito, nesta em especial pelo esforço e pela conquista.
Alias, para quem ainda não participou ou assistiu a uma ultramaratona, todos choram e se abraçam, pois é emocionante cumprir estas provas em que o esforço parece acima de nossas capacidades.
Voltando ao desafio quero deixar claro que não mais farei outro, pois uma prova deve ser o coroamento de um treino, mas o prazer da corrida termina onde não mais se pode treinar e a prova passa a ser uma obrigação sem sentido.
Agora estou embarcando para Orlando, onde vou tentar o Desafio do Pateta. Mais de 2 meses depois da última prova ainda não consegui voltar a treinar num ritmo normal e ainda devo ir no sacrifício.
Depois só em março nas 24 horas da AMAN, prova que tive uma pequena participação para que fosse realizada.
Neste ano vou apenas fazer maratonas e ultras, mas sem contar os Km, apenas me divertindo.
Um ultrabraço, até a volta e “Bora Corrê”.
SEABRA.


Fotos da Maratona de Porto Alegre com a patroa me ajudando a vencer mais uma.

3 comentários:

Kátia Seabra disse...

Que bom que terminou, pai! Evito dizer o contrário quando vc decide algo, pq sei que não vai adiantar muito mesmo. Então só me resta ficar torcendo! De vez em quando escuto: Seu pai deveria parar com isso... ou: Isso é um absurdo...
Mas além de confiar em vc, acredito que depois de decidido a melhor coisa é dar força, já que cada um tem que aproveitar a vida da forma que lhe der mais prazer.
Agora aproveita para curtir e eu aguardo aqui a sua próxima "invenção". kkkkk
Te amo e te admiro, mas isso não é privilégio só meu, né?!
Beijos.

Jorge Cerqueira disse...

Meu amigo Seabra, não sei se vc vai lembrar de mim, mas tive o prazer conhecer e de correr com vc nas 24 horas dos Fuzileiros aqui no Rio de Janeiro, não sabia que vc tinha blog, descobri através do blog do meu amigo Miguel do Baleias de BH, parabéns pelos 1.000 mil Kms em 10 meses vc é fera, vc disse que teve várias lesões, vc já ouviu falar dos produtos FOREVER, pois fique sabendo não sou vendedor hein, só estou lhe informando pq vejo muitos atletas usando esses produtos e principalmente os que fazem Ultramaratonas, desejo que essas dores que vc estava sentindo já cessaram e espero que o Desafio do Pateta vc concluiu com sucesso. Desejo que o seu ano de 2010 seja de muitas realizações com DEUS e também correndo muito.

Um abraço,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.blogspot.com

Kátia Seabra disse...

Oi Jorge, Sou a filha dele e já havia falado também sobre os produtos da FOREVER, mas moro longe dele e ficou um pouco difícil de mostrá-los.