segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Disney 2010 - Desafio do Pateta.







Que barato... O passeio, as provas, as compras, tudo perfeito. Só a dor no joelho não me abandona mais, mas não impediu de terminar a meia e a maratona em dois dias consecutivos.


O passeio com a família é inesquecível. São parques, montanhas e fotos para serem guardas para o resto da vida.


Já as compras, até eu me perdi e gastei o dobro do que previra. As mulheres então endoidam de vez, mas vale a pena.


Os costumes dos americanos são bem distintos dos nossos. demonstram amor ao seu País a todo instante, reverenciam seus verdadeiros heróis e possuem uma educação esportiva que chegou a me assustar.


Enquanto nós somos patriotas apenas nas copas do mundo, chamamos de heróis os integrantes do BBB e só pedimos desculpas se derrubamos alguém, eles dizem "sory" se cruzam na sua frente, sem sequer esbarrar.


Mas outro detalhe nada agradável nos chamou a atenção. Como comem mal e muito. Os gordos de lá são verdadeiras baleias e não andam. Usam carrinhos elétricos para tudo e existem até esteiras rolantes no plano, como no aeroporto de Orlando.


Mas vamos às provas.


Dia 7 fomos pegar os kits na parte da tarde e eu acordara tendo cãibras horríveis no ombro direito (acho que do frio e algum mal gesto). Lá havia uma feira de material esportivo, que deixava qualquer aficionado perdido. Comprei um tênis de prova Spira, uma calça de correr (daquelas de viadinho mesmo), um Garmin 310, meias, umas tiras para distenções, etc... Não comprei mais porque as cãibras estavam a todo vapor.


Naquela noite tive que ir para o hospital, pois lá não se compra nenhum medicamento sem receita e eu precisava de um relaxante muscular urgente para correr as provas. É lógico que o médico, igualzinho aos daqui, me proibiu de fazer qualquer esforço por uma semana.


Ouvi atentamente as recomendações e as cumpri a risca: Não participei de nenhum cabo-de-guerra ou ergui sequer um copo de Coca Cola. Como uma meia e uma maratona não considero esforço, mas prazer, atendi a todas as recomendações, além de ter tomado os remédios com uma fidelidade invulgar.


No dia seguinte só estava com o local dolorido, mas sem as malditas cãibras. Resolvi que não iria andar em nenhum brinquedo, o que, para mim que gosto das montanhas, foi um sacrifício. Minha mulher ainda me chamava para as mais emocionantes, pois estávamos no Sea Word, onde tem a famosa Manta (uma montanha em que você fica deitado de barriga para baixo), mas eu não viera de tão longe para andar de trenzinho, coisa que a minha filha de 12 anos andou em todas, mas ali estava para correr o desafio, que poucos conseguiriam.


No sábado, dia da meia, acordei às 3horas, me vesti e fui pegar o ônibus. Que frio infernal!!!!


A largada é em ondas e a minha era no curral B, lá pela 5:40 hs. Saltei do ônibus às quatro e pouco e fui me arrumar para a prova. Quando já havia me despido dos agasalhos grossos começa a chover e o frio aumenta. Como bom carioca cheguei à conclusão de que teria que ser malandro ou ia encarangar com o frio. Olhei aquele povo todo tremendo e vi uma solução. Me esconder dentro da barraca de guarda-volumes. Assim fiz e só saí de lá quando a área de reunião já estava vazia. Daquela barraca até o local da saída se andava mais de 1km no frio e chuva. Quando estava chegando no meu curral a primeira onda já largara e mal entrei no cercado lá começou o foguetório que significava a largada da minha turma.


No início tentei correr um pouco, mas meu joelho estava frio e não respondia ao que eu pedia. Achei melhor diminuir e garantir a chegada em condições de participar no dia seguinte. Em um trecho do início da prova os pingos de chuva se transformaram e minúsculas pedrinhas que batiam no meu nariz, única parte descoberta da minha roupa. A cada km melhorava o tempo, até que me pegaram os militares TC Morais e Cap. Parra, com os quais já havia corrido a Maratona de São Paulo. Conversamos bastante e fomos juntos e em bom ritmo até o km 18. Ali eu os mandei seguir, pois me preocupava com o dia seguinte. Cruzei a linha com 2h 45' 14", mas me sentindo melhor do que na saída.


Neste dia, de tarde, fomos às compras em Orlando e caminhei o tempo todo sem dor.


No domingo mesmo ritual e me escondi no guarda-volumes, mas um gringo com cara de japonês insistia em me tirar dali. Fingia que não entendia e fazia sinal de positivo. Dali a pouco ele voltava. Lá pelas folhas tantas, o gringo começou a se alterar e eu, com um frio de menos 4 graus no lombo, resolvi que teria que sair ou criar uma encrenca que me daria mais uns minutos no calorzinho. Comecei a retrucar o que ele dizia em Português, o que foi muito interessante, pois ele não me entendia e eu fingia que também não o entendia. Assim ficamos por alguns minutos, quando a barraca já estava vazia. Eu pedi desculpas ao gringo em inglês e o cumprimentei efusivamente e saí correndo para a longínqua linha de partida.


Neste dia estava bem melhor que na meia maratona, mas resolvi que iria me divertir e tirar muitas fotos. Foi tudo um show que não devia terminar tão cedo. A prova é de um plano rigorosamente plano. No caminho acontece de tudo e você é incentivado de tal forma que não vê o tempo passar. Lá pelos 15 km fui alcançado pelos meus amigos militares e corremos um bom pedaço, quando eles tiveram que fazer uma pausa maior devido àqueles contratempos intestinais em um dos atletas. Segui, pois temia esfriar o joelho que naquele instante dormia feito um anjinho.

Já dentro do último parque eles me alcançaram de novo e terminamos juntos. Não sei como, mas quando me lembrei de voltar a ter contato com eles já haviam sumido na multidão.

Pouco antes de chegar fui brindado com uma bandeira americana por uma mulher que certamente se apaixonara por mim. Também quase ao fim alcancei um amigo de várias provas, inclusive da BR, o grande Rodrigo, com sua contagiante alegria e garra. A foto é uma homenagem ao amigo Pateta que nem eu.

Depois de tanto sofrimento para cumprir os 1.000km esta prova foi uma festa.

Só faltou dizer que a minha mão esquerda só voltou a existir depois do km5, a água que bebíamos tinha uma camada de gelo que tínhamos que retirar para beber o que restava o Powerrade (isotônico) estava com consistência de sorvete e doía na boca, as poucas poças do caminho eram de gelo grosso e escorregadio.

Agora estamos indo para a BR 135 onde vou estrear do outro lado da pista agora como organizador e retorno para iniciar os trabalhos da "Bora Corrê", nossa assessoria esportiva especializada em corridas de longa distância.

Até a volta e espero que todos consigam ter a ventura de conseguirem uma participação numa prova como esta, especialmente os que possuem, como eu, filhos pequenos.

Um ultrabraço e "Bora Corrê"

Seabra.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Desafio dos 1.000km em 10 meses.


O relato a seguir se refere ao desafio dos 1.000km em 10 meses que acabo de vencer.
Não foi fácil. No início a BR135 que já tive a oportunidade de descrever. Um bom descanso e comecei a realizar provas umas em seguida das outras.
Fui vendo que havia algo de errado quando largava para uma maratona, cheio de esperança de baixar meu tempo e me arrastava melancolicamente no final.
A cada prova meus tempos iam piorando.
Logo comecei a regurgitar e ter cãibras ao fim das maratonas.
Foi assim em São Paulo, no Rio e em Foz. Até em Curitiba, quando já não treinava mais, senti o esforço.
Há cerca de dois meses comecei a sofrer dos joelhos. O mal estar e as dores nas articulações eram novidade para mim e a explicação só podia ser uma: Excesso de treino e provas muito rigorosas.
A coisa ia piorando, até que inventei de ir para Praias e Trilhas em Florianópolis. Lá terminei com meus joelhos, meu orgulho em nunca ter desistido de uma prova, minha saúde e abdiquei dos treinos para sobreviver ao maldito desafio. Joguei fora um fim de semana e 84 Km que iriam me facilitar a vida ao fim da jornada.
Voltei ferido e disposto a fazer todas as provas que aparecessem, mesmo sem qualquer possibilidade de curtir as corridas.
Fazia uma prova no sábado e o joelho esquerdo ficava sem condições de tocar no solo. No domingo largava em último e só começava a passar alguém quando o joelho aquecia e a dor era esquecida. Prova na terça ou quarta e lá estava eu e meu joelho podre.
Cheguei à Maratona de Curitiba e juntei joelho, panturrilha e inflamação na unha do dedão, tudo na tal perna esquerda.
Com enorme sacrifício concluí a prova e ainda ganhei um lindo troféu por ter completado as 6 Maratonas brasileiras do ano.
No fim de semana seguinte já estava no Rio para as 24 horas dos Fuzileiros, na Escola Naval.
Faltavam apenas 104 km e uns poucos metros, mas não foi fácil. Muito calor, umidade e dor. Com pouco mais de 4 horas meu amigo Luciano Prado viu o meu estado e chamou seu treinador, Herói Fung, para utilizar um aparelho que dá uns choques no meu joelho.
Parei mais de meia hora, mas voltei com a articulação curada.
Ocorre que eu já parara de treinar há muito tempo e os quilômetros não corriam como antes. Já anoitecendo começaram as bolhas.
Foram duas em cada pé. Enormes, gigantescas. No Rio isto é normal, devido ao calor e a umidade que se acumula dentro dos tênis, mesmo os trocando regularmente. Uma bobeada e "creu".
O único remédio foi parar mais uma vez e furá-las.
Na madrugada nenhuma brisa e o calor era insuportável. Comecei a fazer as contas de onde eu estava e o tempo que faltava. Achei que não conseguiria. Novas contas de cabeça e concluí que não conseguiria mesmo. Lá pelas 3 horas me deitei num canto da pista e desisti da prova e do meu desafio. Ali fiquei por exatos 44 minutos, porém a solidariedade do filho do meu amigo Raul me aliviou as dores. Ele pegou seu travesseiro e colocou debaixo da minha cabeça suada, suja e fedida.
Em um dado momento resolvi me levantar e verificar até onde ainda conseguiria ir. Neste instante uma brisa vinda do mar começou a soprar. Passei a correr na direção do vento e caminhar contra. Pouco depois já conseguia correr e vários atletas passaram a fazer voltas comigo me incentivando.
O dia amanheceu e, para minha sorte, estava nublado. Quente, mas sem sol. Lá pelas 7 da manhã comecei a fazer os cálculos de novo e o pessoal da Marinha me informava o que ainda me faltava a cada intervalo de meia hora.
Seria muito difícil, mas ainda podia ser que desse. Nada mais, porém, poderia falhar.
Quando faltava pouco mais de maia hora os atletas passaram a gritar para mim e eu aumentava o ritmo a cada volta.
Faltando cerca de 5 minutos o pessoal do computador me avisou que eu conseguira atingir minha meta, mas como estava no embalo dei mais uma volta e uns metros mais, sendo cumprimentado por todos.
Ao fim, como em quase todas as ultras, chorei muito, nesta em especial pelo esforço e pela conquista.
Alias, para quem ainda não participou ou assistiu a uma ultramaratona, todos choram e se abraçam, pois é emocionante cumprir estas provas em que o esforço parece acima de nossas capacidades.
Voltando ao desafio quero deixar claro que não mais farei outro, pois uma prova deve ser o coroamento de um treino, mas o prazer da corrida termina onde não mais se pode treinar e a prova passa a ser uma obrigação sem sentido.
Agora estou embarcando para Orlando, onde vou tentar o Desafio do Pateta. Mais de 2 meses depois da última prova ainda não consegui voltar a treinar num ritmo normal e ainda devo ir no sacrifício.
Depois só em março nas 24 horas da AMAN, prova que tive uma pequena participação para que fosse realizada.
Neste ano vou apenas fazer maratonas e ultras, mas sem contar os Km, apenas me divertindo.
Um ultrabraço, até a volta e “Bora Corrê”.
SEABRA.


Fotos da Maratona de Porto Alegre com a patroa me ajudando a vencer mais uma.