sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Prezados amigos (as).

Após anos participando com nossa equipe “Bora Corrê”em diversas provas de ultramaratonas, particularmente 24 horas, Caparaó e a rainha das ultras a nossa BR 135, verificamos que muitos atletas têm seu rendimento drasticamente reduzido por falta de um treinamento especializado, planejamento para execução das provas e um apoio adequado.

Particularmente os dois últimos itens são fundamentais para que se evite a quebradeira que ocorre quando o atleta se lança em busca de seu objetivo e não recebe apoio adequado em um dos pontos pré-combinados. Por diversas vezes vemos bons corredores sem qualquer planejamento de como se hidratar, se alimentar, descansar, estratégia de revezamentos para duplas e trios, etc....

Sempre digo aos meus atletas e aos inúmeros amigos que recorrem a mim para que os oriente para vencer estes desafios que a peça menos importante nesta engrenagem que nos leva ao fim de uma jornada destas é o atleta. Estes, geralmente, estão preparados e sabem os seus limites. A logística destas provas é o grande motor que impulsiona os nossos passos. Por mais de uma vez e em todos os anos, atletas inteiros, liderando a prova ou realizando uma performance melhor do que a esperada, sentem o baque físico e moral inevitável de chegarem em um ponto de apoio e sua equipe não estar lá. Alguns seguem assim mesmo e pagam caro logo em seguida. Outros preferem esperar e vêm todo o seu esforço anterior se diluir a cada minuto de espera sentado em um banco de praça.

Por outro lado a vida dos apoios é bem mais sofrida que a do próprio atleta. Geralmente são abnegados que se dispõem a ajudar sem nunca terem visto uma prova destas ou sem conhecerem a região. Seu sofrimento começa na reunião, quando são despejados uma dezena de cidades, rotas, rotas alternativas, pontos de interdição, regras e proibições. A enorme maioria nem sabe de regulamento e de como irá se desenvolver a prova e qual a sua função. Já na prova verificamos dois tipos de apoios: os cuca-fresca que parecem que não entendem porque o atleta ainda não providenciou apoio para eles e os bem intencionados mas inexperientes, sempre perdidos, quase inúteis em que pese extrema boa-vontade.

Atleta tem que treinar e correr. Cada equipe (solo, dupla ou trio) têm que ter um chefe, pois estamos diante de uma verdadeira operação de guerra, em que as tropas devem se deslocar por caminhos pré-determinados e reconhecidos e cumprir os tempos de encontro com outras tropas, sob pena de sucumbirmos em toda a operação. Este chefe é quem irá providenciar toda a logística de hospedagem, alimentação, planejamento da prova e modificação do planejamento sempre que houver necessidade. Este chefe de equipe tem que conhecer cada detalhe da prova, do terreno, dos atalhos, das pousadas, dos botecos da estrada. Tem que ter experiência e saber se impor sobre os integrantes da equipe de boa-vontade.

Cada equipe tem que sair de casa com um planejamento executado com conhecimento de causa, super detalhado, com missões para cada integrante e aprovado por todos os interessados. Sem isto ninguém sabe sequer onde vai jantar no primeiro dia, onde repousar, que tênis usar, quais os suplementos que o atleta está acostumado, onde vai o pacer, etc....

O exemplo do que estamos relatando foi dado pelas nossas duas equipes de duplas. A primeira formada integralmente por atletas e apoios com 3 participações na BR 135. Jair com seus 50 anos bem vividos e Raul com seus 105 quilos bem distribuídos A outra formada por dois excelentes atletas que se conheceram no dia da prova e cujos apoios não tinham nenhuma noção do que iriam enfrentar. Nossa previsão era de que a segunda, tempo por tempo apenas, colocaria cerca de 4 horas na primeira, mas sempre deixamos claro que a experiência deveria suplantar a velocidade. Resultado a BC1 chegou quatro horas na frente, sem ter perdido um só segundo nas trocas, refeições, banhos e descansos. Apenas em um trecho parou exatamente para esperar a nossa outra equipe para que os atletas seguissem um trecho noturno juntos. Atletas experientes, planejamento cumprido e apoio de primeira em todos os pontos nos levaram a um resultado excelente.

Não temos atletas de ponta, mas temos a certeza de que muitos que penam por não encontrarem seus acompanhantes na trilha, não saberem que horas se faz uma refeição, banho ou repouso poderiam brigar pela ponta, pelas 48 horas ou por melhorar sua marca pessoal em algumas boas horas.

Feitas estas reflexões a “Bora Corrê” vem se colocar a disposição de alguns amigos ultramaratonistas para efetuar diversas atividades que facilitariam a vida dos corredores, deixando-os apenas com as delícias dos treinos e das provas. Sabemos que a grande maioria dos amigos já possuem treinadores de excelente nível que os levaram até o patamar que estão e de forma alguma queremos comparar nosso trabalho com aquilo que já dispõe, mas outros não têm esta mesma assessoria especializada em maratonas e ultras. Alguns possuem treinadores, mas não sabem como planejar uma prova destas. Outro precisam apenas que alguém se encarregue de hospedagem, aluguel de carros, transporte, etc... A maioria precisa de um planejamento e de ter alguém que execute o que foi planejado.

Até aqui nos preocupamos em comparecer em todas as provas e aprender cada detalhe desta prestação de serviço especializado ao atleta. Sem dúvida nossa equipe é tida como a mais organizada desde a nossa primeira ultra Corrotododia quando comparecemos com um ‘moto home’ que iniciou o dia atolando na beira da pista da Unicemp em Curitiba.

Hoje já temos um ‘know how’ que nos permite oferecer tudo o que um atleta precisa para se preocupar apenas em correr.

Nossos serviços já estarão disponíveis na prova de 50 milhas de Campinas do nosso amigo Fernando e se prolongarão por todo o ano de 2011, interrompendo na própria BR 135 de 2012, quando não disponibilizaremos os chefes de equipe, pois todos os integrantes da “Bora Corrê” estamos compromissados com a prova solo do Raul e precisamos de todos, pois são módicos 105 quilinhos para levarmos até Paraisópolis. Assim mesmo faremos os treinamentos, logística e planejamento para aqueles que assim desejarem.

Esperando ter a presença do amigo em nossa equipe ou que nossa proposta seja divulgada entre os menos experientes, nos colocamos a disposição para maiores esclarecimentos.

Um ultrabraço e “Bora Corrê”.

SEABRA, Raul, Jair, Mateus, Patrícia e Rosi.


Anexo tabela de preços dos serviços disponíveis.
Por favor, aqueles que já possuem suas assessorias especializadas desconsiderem este e-mail, que se dirige apenas a quem está carente destes serviços.
Dor, muita dor. Este é o resumo dos meus últimos 5 meses.
Dor física de um pubis destroçado e dor mental por ter que ficar inerte, apenas engordando e me sentindo inútil.
Durante este tempo não quiz escrever nada, pois tudo seria triste e ultra tem que ser feliz por natureza.
Hoje retorno, com bem menos dor e já tendo iniciado algumas atividade na água e tendo conseguido acompanhar meus atletas na BR 135.
Não vou falar da prova em que meus amigos Raul e Jair deram um show, nem da menos brilhante dupla do Amorim e Rodney, cujo resultado não expressou o dote atlético de cada um deles, mas pagaram pela inexperiência e por falta de planejamento e de apoio menos amador.
O que me traz hoje é lançar uma idéia que irá facilitar a vida dos amigos que correm, correm, e não chegam a lugar nenhum.
Vou falar de planejamento, treinamento específico, apoio chefiado por quem entenda do riscado.
Neste espaço vou expor o que a Bora Corrê pretende fazer daqui para a frente em cada prova de ultramaratonas.
O que vai abaixo é apenas uma mensagem que mandei para meus sócios expondo minha idéia inicial, que será aperfeiçoada por nós, com as sugestões de diversos amigos para quem iremos enviar o que se segue.
Boa leitura e podem dar pitacos que eles serão muito bem vindos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Disney 2010 - Desafio do Pateta.







Que barato... O passeio, as provas, as compras, tudo perfeito. Só a dor no joelho não me abandona mais, mas não impediu de terminar a meia e a maratona em dois dias consecutivos.


O passeio com a família é inesquecível. São parques, montanhas e fotos para serem guardas para o resto da vida.


Já as compras, até eu me perdi e gastei o dobro do que previra. As mulheres então endoidam de vez, mas vale a pena.


Os costumes dos americanos são bem distintos dos nossos. demonstram amor ao seu País a todo instante, reverenciam seus verdadeiros heróis e possuem uma educação esportiva que chegou a me assustar.


Enquanto nós somos patriotas apenas nas copas do mundo, chamamos de heróis os integrantes do BBB e só pedimos desculpas se derrubamos alguém, eles dizem "sory" se cruzam na sua frente, sem sequer esbarrar.


Mas outro detalhe nada agradável nos chamou a atenção. Como comem mal e muito. Os gordos de lá são verdadeiras baleias e não andam. Usam carrinhos elétricos para tudo e existem até esteiras rolantes no plano, como no aeroporto de Orlando.


Mas vamos às provas.


Dia 7 fomos pegar os kits na parte da tarde e eu acordara tendo cãibras horríveis no ombro direito (acho que do frio e algum mal gesto). Lá havia uma feira de material esportivo, que deixava qualquer aficionado perdido. Comprei um tênis de prova Spira, uma calça de correr (daquelas de viadinho mesmo), um Garmin 310, meias, umas tiras para distenções, etc... Não comprei mais porque as cãibras estavam a todo vapor.


Naquela noite tive que ir para o hospital, pois lá não se compra nenhum medicamento sem receita e eu precisava de um relaxante muscular urgente para correr as provas. É lógico que o médico, igualzinho aos daqui, me proibiu de fazer qualquer esforço por uma semana.


Ouvi atentamente as recomendações e as cumpri a risca: Não participei de nenhum cabo-de-guerra ou ergui sequer um copo de Coca Cola. Como uma meia e uma maratona não considero esforço, mas prazer, atendi a todas as recomendações, além de ter tomado os remédios com uma fidelidade invulgar.


No dia seguinte só estava com o local dolorido, mas sem as malditas cãibras. Resolvi que não iria andar em nenhum brinquedo, o que, para mim que gosto das montanhas, foi um sacrifício. Minha mulher ainda me chamava para as mais emocionantes, pois estávamos no Sea Word, onde tem a famosa Manta (uma montanha em que você fica deitado de barriga para baixo), mas eu não viera de tão longe para andar de trenzinho, coisa que a minha filha de 12 anos andou em todas, mas ali estava para correr o desafio, que poucos conseguiriam.


No sábado, dia da meia, acordei às 3horas, me vesti e fui pegar o ônibus. Que frio infernal!!!!


A largada é em ondas e a minha era no curral B, lá pela 5:40 hs. Saltei do ônibus às quatro e pouco e fui me arrumar para a prova. Quando já havia me despido dos agasalhos grossos começa a chover e o frio aumenta. Como bom carioca cheguei à conclusão de que teria que ser malandro ou ia encarangar com o frio. Olhei aquele povo todo tremendo e vi uma solução. Me esconder dentro da barraca de guarda-volumes. Assim fiz e só saí de lá quando a área de reunião já estava vazia. Daquela barraca até o local da saída se andava mais de 1km no frio e chuva. Quando estava chegando no meu curral a primeira onda já largara e mal entrei no cercado lá começou o foguetório que significava a largada da minha turma.


No início tentei correr um pouco, mas meu joelho estava frio e não respondia ao que eu pedia. Achei melhor diminuir e garantir a chegada em condições de participar no dia seguinte. Em um trecho do início da prova os pingos de chuva se transformaram e minúsculas pedrinhas que batiam no meu nariz, única parte descoberta da minha roupa. A cada km melhorava o tempo, até que me pegaram os militares TC Morais e Cap. Parra, com os quais já havia corrido a Maratona de São Paulo. Conversamos bastante e fomos juntos e em bom ritmo até o km 18. Ali eu os mandei seguir, pois me preocupava com o dia seguinte. Cruzei a linha com 2h 45' 14", mas me sentindo melhor do que na saída.


Neste dia, de tarde, fomos às compras em Orlando e caminhei o tempo todo sem dor.


No domingo mesmo ritual e me escondi no guarda-volumes, mas um gringo com cara de japonês insistia em me tirar dali. Fingia que não entendia e fazia sinal de positivo. Dali a pouco ele voltava. Lá pelas folhas tantas, o gringo começou a se alterar e eu, com um frio de menos 4 graus no lombo, resolvi que teria que sair ou criar uma encrenca que me daria mais uns minutos no calorzinho. Comecei a retrucar o que ele dizia em Português, o que foi muito interessante, pois ele não me entendia e eu fingia que também não o entendia. Assim ficamos por alguns minutos, quando a barraca já estava vazia. Eu pedi desculpas ao gringo em inglês e o cumprimentei efusivamente e saí correndo para a longínqua linha de partida.


Neste dia estava bem melhor que na meia maratona, mas resolvi que iria me divertir e tirar muitas fotos. Foi tudo um show que não devia terminar tão cedo. A prova é de um plano rigorosamente plano. No caminho acontece de tudo e você é incentivado de tal forma que não vê o tempo passar. Lá pelos 15 km fui alcançado pelos meus amigos militares e corremos um bom pedaço, quando eles tiveram que fazer uma pausa maior devido àqueles contratempos intestinais em um dos atletas. Segui, pois temia esfriar o joelho que naquele instante dormia feito um anjinho.

Já dentro do último parque eles me alcançaram de novo e terminamos juntos. Não sei como, mas quando me lembrei de voltar a ter contato com eles já haviam sumido na multidão.

Pouco antes de chegar fui brindado com uma bandeira americana por uma mulher que certamente se apaixonara por mim. Também quase ao fim alcancei um amigo de várias provas, inclusive da BR, o grande Rodrigo, com sua contagiante alegria e garra. A foto é uma homenagem ao amigo Pateta que nem eu.

Depois de tanto sofrimento para cumprir os 1.000km esta prova foi uma festa.

Só faltou dizer que a minha mão esquerda só voltou a existir depois do km5, a água que bebíamos tinha uma camada de gelo que tínhamos que retirar para beber o que restava o Powerrade (isotônico) estava com consistência de sorvete e doía na boca, as poucas poças do caminho eram de gelo grosso e escorregadio.

Agora estamos indo para a BR 135 onde vou estrear do outro lado da pista agora como organizador e retorno para iniciar os trabalhos da "Bora Corrê", nossa assessoria esportiva especializada em corridas de longa distância.

Até a volta e espero que todos consigam ter a ventura de conseguirem uma participação numa prova como esta, especialmente os que possuem, como eu, filhos pequenos.

Um ultrabraço e "Bora Corrê"

Seabra.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Desafio dos 1.000km em 10 meses.


O relato a seguir se refere ao desafio dos 1.000km em 10 meses que acabo de vencer.
Não foi fácil. No início a BR135 que já tive a oportunidade de descrever. Um bom descanso e comecei a realizar provas umas em seguida das outras.
Fui vendo que havia algo de errado quando largava para uma maratona, cheio de esperança de baixar meu tempo e me arrastava melancolicamente no final.
A cada prova meus tempos iam piorando.
Logo comecei a regurgitar e ter cãibras ao fim das maratonas.
Foi assim em São Paulo, no Rio e em Foz. Até em Curitiba, quando já não treinava mais, senti o esforço.
Há cerca de dois meses comecei a sofrer dos joelhos. O mal estar e as dores nas articulações eram novidade para mim e a explicação só podia ser uma: Excesso de treino e provas muito rigorosas.
A coisa ia piorando, até que inventei de ir para Praias e Trilhas em Florianópolis. Lá terminei com meus joelhos, meu orgulho em nunca ter desistido de uma prova, minha saúde e abdiquei dos treinos para sobreviver ao maldito desafio. Joguei fora um fim de semana e 84 Km que iriam me facilitar a vida ao fim da jornada.
Voltei ferido e disposto a fazer todas as provas que aparecessem, mesmo sem qualquer possibilidade de curtir as corridas.
Fazia uma prova no sábado e o joelho esquerdo ficava sem condições de tocar no solo. No domingo largava em último e só começava a passar alguém quando o joelho aquecia e a dor era esquecida. Prova na terça ou quarta e lá estava eu e meu joelho podre.
Cheguei à Maratona de Curitiba e juntei joelho, panturrilha e inflamação na unha do dedão, tudo na tal perna esquerda.
Com enorme sacrifício concluí a prova e ainda ganhei um lindo troféu por ter completado as 6 Maratonas brasileiras do ano.
No fim de semana seguinte já estava no Rio para as 24 horas dos Fuzileiros, na Escola Naval.
Faltavam apenas 104 km e uns poucos metros, mas não foi fácil. Muito calor, umidade e dor. Com pouco mais de 4 horas meu amigo Luciano Prado viu o meu estado e chamou seu treinador, Herói Fung, para utilizar um aparelho que dá uns choques no meu joelho.
Parei mais de meia hora, mas voltei com a articulação curada.
Ocorre que eu já parara de treinar há muito tempo e os quilômetros não corriam como antes. Já anoitecendo começaram as bolhas.
Foram duas em cada pé. Enormes, gigantescas. No Rio isto é normal, devido ao calor e a umidade que se acumula dentro dos tênis, mesmo os trocando regularmente. Uma bobeada e "creu".
O único remédio foi parar mais uma vez e furá-las.
Na madrugada nenhuma brisa e o calor era insuportável. Comecei a fazer as contas de onde eu estava e o tempo que faltava. Achei que não conseguiria. Novas contas de cabeça e concluí que não conseguiria mesmo. Lá pelas 3 horas me deitei num canto da pista e desisti da prova e do meu desafio. Ali fiquei por exatos 44 minutos, porém a solidariedade do filho do meu amigo Raul me aliviou as dores. Ele pegou seu travesseiro e colocou debaixo da minha cabeça suada, suja e fedida.
Em um dado momento resolvi me levantar e verificar até onde ainda conseguiria ir. Neste instante uma brisa vinda do mar começou a soprar. Passei a correr na direção do vento e caminhar contra. Pouco depois já conseguia correr e vários atletas passaram a fazer voltas comigo me incentivando.
O dia amanheceu e, para minha sorte, estava nublado. Quente, mas sem sol. Lá pelas 7 da manhã comecei a fazer os cálculos de novo e o pessoal da Marinha me informava o que ainda me faltava a cada intervalo de meia hora.
Seria muito difícil, mas ainda podia ser que desse. Nada mais, porém, poderia falhar.
Quando faltava pouco mais de maia hora os atletas passaram a gritar para mim e eu aumentava o ritmo a cada volta.
Faltando cerca de 5 minutos o pessoal do computador me avisou que eu conseguira atingir minha meta, mas como estava no embalo dei mais uma volta e uns metros mais, sendo cumprimentado por todos.
Ao fim, como em quase todas as ultras, chorei muito, nesta em especial pelo esforço e pela conquista.
Alias, para quem ainda não participou ou assistiu a uma ultramaratona, todos choram e se abraçam, pois é emocionante cumprir estas provas em que o esforço parece acima de nossas capacidades.
Voltando ao desafio quero deixar claro que não mais farei outro, pois uma prova deve ser o coroamento de um treino, mas o prazer da corrida termina onde não mais se pode treinar e a prova passa a ser uma obrigação sem sentido.
Agora estou embarcando para Orlando, onde vou tentar o Desafio do Pateta. Mais de 2 meses depois da última prova ainda não consegui voltar a treinar num ritmo normal e ainda devo ir no sacrifício.
Depois só em março nas 24 horas da AMAN, prova que tive uma pequena participação para que fosse realizada.
Neste ano vou apenas fazer maratonas e ultras, mas sem contar os Km, apenas me divertindo.
Um ultrabraço, até a volta e “Bora Corrê”.
SEABRA.


Fotos da Maratona de Porto Alegre com a patroa me ajudando a vencer mais uma.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O prazer do fracasso


O título acima pode parecer um verdadeiro paradoxo. Não é.

Faz tempo que convivo com as dores próprias de quem procura superar seus limites e algo que me incomodava era: - quando eu não aguentar mais terei coragem de abandonar uma prova?

Agora vi que consegui. Agora vi que chutei o balde na hora certa.

Cada um de nós treina e gosta de um determinado esporte. Gosto de vencer longas distâncias, subidas e descidas, mas em terreno regular ou em praias.

Trilhas sempre me deixam assustado, pois enxergo mal e tenho medo de me machucar nos buracos e ficar sem treinar e competir por longo tempo. Já não sou criança e sei que minha recuperação será mais lenta e que voltarei antes da hora. Por isto procuro evitar contusões, embora as pequenas dores sejam inerentes ao esporte.


Fui fazer a prova Praias e Trilhas na bela Floripa. Todos me diziam das dificuldades do itinerário, mas eu sempre acabo verificando que a fera não é tão brava assim. Achei que exageravam, mas eu é quem subestimei as dificuldades que iria encontrar.

Lá trilhas são trilhas de pedras e tocos, limo e lama. Subidas bem fortes e descidas piores ainda, especialmente para quem já saiu com os joelhos 'meia boca'. Só fiz 21 km e tenho certeza de que era o recreio da prova, cujas dificuldades iriam se avolumar no segundo dia.

Com 16 km falei com meu filho Bruno que estava sentindo uma fisgada no adutor da perna direita, mas que achava que dava para terminar. Ainda lhe disse que havia decidido não fazer o percurso do dia seguinte, pois as trilhas não me davam nenhum prazer e todas as pedras nas descidas pareciam estar pontiagudas e apontando para o meio do meu rabo.

Eu subia com uma velocidade de 3,2 km e descia a menos de 2 km/h. Uma vergonha superada por qualquer 'véia prenhe'.

Depois de transpor uma pequena praia, havia novo trecho de trilha com 6 km entre subida e descida. Me preparei para o último sofrimento, já que pretendia recuperar o tempo nos 15 km de areia fofa do final.

Antes de iniciar a subida falei com os três integrantes da organização que me informaram que ali era o km 21 e que havia uma mina logo acima para beber água.

Subi não mais de 3 metros quando o adutor da outra perna saltou para fora. Ao tentar, instintivamente, me proteger da cãibra o adutor da direita também pulou do seu trilho natural. Era uma coisa bem feia de ver e muito pior de sentir.

Gritei para os meninos que me socorressem e ali mesmo decidi que estava fora. Minha travada foi em cima do riachinho da tal nascente e os socorristas tiveram que me deitar dentro da água. Nenhum deles sabia fazer as manobras para colocar os músculos no lugar e, enquanto tentava lhes explicar senti que os músculos do abdomem também queriam participar da festa.

Me joguei de corpo inteiro naquela água geladinha e esperei que as cãibras melhorassem por si só. Em pouco tempo já estava me recuperando e ainda fiquei olhando para o morro na minha frente, pensando se ia ou não.

Quando pude me levantar vi que tivera muita sorte de estar naquele ponto e com 3 ajudantes, pois qualquer movimento para arrastar as pernas já fazia as duas 'tirinhas de músculo' darem sinal de vida.

Os meninos chamaram um bombeiro que dava apoio no local e este providenciou o resgate. No início eu iria sair de balsa, mas depois ficamos conversando e eu, no meio do papo, disse que era Coronel do Exército. Não sei se isto modificou a decisão, mas em determinado momento o bombeiro foi para o alto do morro e voltou dizendo que o transporte mudara para helicóptero. Quando a equipe de socorro chegou eu já estava bem melhor. Me disseram que iriam me levar para o hospital da Base Aérea e eu lhes expliquei que estava inteiro, mas sem condições, apenas, de prosseguir na prova. Expliquei que minha equipe estava na praia seguinte e que podiam me deixar por lá. Assim foi feito e desci na praia a poucos metros do boteco onde meus familiares estavam.

Ao contar esta prosa para o resto dos atletas a gozação foi geral, pois todos queriam ser resgatados de helicóptero e para tal iriam dizer que eram amigos do Coronel.


Mas brincadeiras de lado ficam duas lições: a primeira é que os grupos musculares que me impulsionam na corrida não são os mesmos que me freiam nas pedras e segunda é que o medo causa mais cansaço que a intensidade da prova.


Eu posso dizer que corri com medo das pedras e totalmente travado, duro, sem prazer naquilo que fazia.


No dia seguinte acordei cedo e fui incentivar meus amigos. Durante parte da prova distribuí tudo o que havia previsto para ingerir naquela prova e, quando acabou fui atravessar o trecho mais longo de praia com uma corredora da Marinha que conhecera naquele momento. Corremos 15 km juntos e conversamos muito. Ela não caminhou um só instante e ultrapassou diversos atletas naquelas areias. Quando chegamos na próxima trilha nos despedimos e não guardei seu nome, mas sei que vamos nos encontrar nas 24 hs do Rio.


A prova é muito forte, impecavelmente organizada, e tem uma turma de atletas da melhor qualidade, onde o espírito esportivo se sobrepõe a todas as outras virtudes destes heróis.

Fiquei muito satisfeito por rever meus amigos da BR, especialmente o Allison. Fiz vários novos amigos, entre os quais Júlio Cordeiro (campeão e único representante do Norte-Nordeste), João Gabardo e sua esposa e meu futuro companheiro de BR Alberto Peixoto.


Por ter sido meu primeiro fracasso registro o meu prazer por ter abandonado esta prova na hora certa, pois não tenho nenhuma semelhança com cabrito, além de ter causado inveja nos amigos pelo turismo aéreo e também pelos momentos de ajuda aos que prosseguiam, sem contar com a descontração nas atividades extra-prova.


Nunca mais me aventuro em trilhas, mas recomendo a todos que possuem facilidades nas pedras, pois esta prova é uma das mais difíceis no Brasil e estão de parabéns seus organizadores e os bravos que chegaram ao fim da jornada.


Um ultrabraço e "Bora Corrê"

Seabra.
A imagem acima é uma homenagens aos meus colegas de turma de Cavalaria, que moram em Santa Maria e Bagé e foram me prestigiar quando corri as 24 horas de S. Maria. A eles meu muito obrigado pela força.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A maratona de Foz

O artigo seguinte é uma descrição da Maratona de Foz feita pelo nosso homem de marketing e ultramaratonista Raul Avelino. Como ele me deu um banho nesta prova vou lhe dar uma colher de chá, já que aqui, democraticamente, quem tem a chave do cofre sou só eu.....................

Sangue, suor e água, muita água!

Amigos leitores,

Sempre que alguém fica sabendo das minhas aventuras no mundo das maratonas e ultramaratonas eu ouço primeiro uma afirmação “você é louco.” E em seguida, quase que invariavelmente, uma pergunta “mas como é que é correr quarenta e dois quilômetros?”
Bom, como já desisti de tentar dissuadi-los da idéia de que sou louco, mesmo porque às vezes eu também me pego concordando com essa afirmação, passo ao pagamento da dívida, ou seja, resolvi contar como é correr os quarenta e dois quilômetros cento e noventa e cinco metros de uma maratona.
Não o faço por exibicionismo não, é que a experiência que vivi correndo no final de semana retrasado a maratona de Foz do Iguaçu foi diferente de todas as outras acredito eu, que muito mais pela beleza do lugar do que por qualquer outro motivo, e embora eu já conhecesse a cidade e suas atrações turísticas, só agora fiquei muito fã da cidade a ponto de fazer-lhe através desse relato uma grande propaganda. Visitem Foz do Iguaçu!
E olhem que a ida pra lá foi um verdadeiro programa de índio, com compromissos profissionais no sábado pela manhã, não pude seguir na sexta-feira com minha esposa, um casal de amigos e sua filha, conforme era o programado, assim pra fins de redução de custos decidi ir de ônibus já que era desnecessário irmos em dois carros e a passagem de avião pra lá estava na faixa dos duzentos e cinquenta paus mais taxa de embarque. Com a passagem de ônibus a cento e dois reais a diferença de preços me pareceu bastante sedutora.
Assim, fui à reunião de negócios no sábado de manhã e de lá rumei para rodoferroviária de Curitiba que cá pra nós já passou da hora de sofrer uma profunda reforma, deixei o carro no estacionamento e tomei o buzão da Catarinense rumo ao oeste do Paraná, poupar-lhes-ei o sofrimento da narrativa das quase doze hora a bordo do coletivo, apenas para que tenham uma idéia da situação, ao meu lado seguiu uma mocinha com uma criança de poucos meses de vida que não chorou um segundo sequer, como era meu temor inicial ao me deparar com o quadro, em compensação, cagou-se a viagem toda, ô criancinha danada de cagona! O azedume da atmosfera ainda me povoa os pensamentos, essa viagem fazia escala em Cascavel onde finalmente me despedi da jovem mãe e sua maquininha de fazer cocô. Seu lugar foi ocupado por outro jovem, um contrabandista de peças de celulares que me “divertiu” os cento e poucos quilômetros restantes com as histórias de suas aventuras carregando muamba no movimentadíssimo eixo Paraguai - São Paulo. E no dia seguinte eu ainda tinha que encarar os 42,195 km da maratona, nunca pensei que duzentos e cinquenta pilas por uma passagem aérea entre Curitiba e Foz me pareceriam uma pechincha, mas enfim, desembarcamos eu, o contrabandista e mais uma galera, na rodoviária da cidade, o único que não desembarcou do ônibus, e não deve tê-lo feito até hoje, foi o budum da criança cagada! Melhor, pelo menos não me seguiu, a não ser na memória.
Lá o meu amigo e companheiro de corridas o advogado e coronel de cavalaria do exército Dr. Seabra Santos, um dia ainda lhes descrevo essa figura hilária, me aguardava rumamos para o hotel onde no meu quarto me deparei com minha esposa completamente alucinada entre a montanha de quinquilharias que havia comprado no Paraguai, eu tinha avisado ao Seabra que esse negócio de duas mulheres e uma menina soltas no paraíso das compras não ia dar muito certo, bom, larguei ela lá maravilhada em meio a bolsas, relógios eletro-eletrônicos e afins e fui tratar de arranjar um restaurante próximo do hotel pra jantar, o Seabra também visivelmente puto com a sua também perdulária esposa resolveu me acompanhar, não me pareceu uma decisão muito inteligente, pois com o calor que faz naquele lugar uma companhia pro chopp não é algo muito sensato às vésperas de uma maratona, mas lá fomos nós, matamos um fetuccini à parisiense, carboidrato é sempre bom antes de provas como essas e uns bons litros de chopp.
Dado o calor da região a largada seria no domingo às sete da manhã do Lago de Itaipu, com isso a organização da prova disponibilizou ônibus que passariam nos hotéis recolhendo os atletas pra levar até o local da largada, no nosso caso o ônibus passaria às cinco da manhã, com isso fui dormir mais ou menos à uma da manhã e me levantei as quatro ainda de ressaca e com muito, muito sono, mas tudo bem vamos lá afinal não corro pra competir e sim pra me divertir, não sou maratonista e sim maraturista.
Desembarcamos no Parque Nacional do Lago de Itaipu, tinha sido uma semana bastante chuvosa e o volume de água que vertia daquelas comportas de tamanho descomunal era uma coisa simplesmente fantástica um espetáculo construído pelas mãos do homem que nos assombra quando paramos pra pensar do que somos capazes, realmente algo lindo de se ver.
A previsão era de chuva a partir das oito horas o que seria ótimo pra rebater o calor causticante que às seis e meia da manhã já se anunciava. Como ainda faltava pouco mais de meia hora para largada resolvi me deitar num cantinho de asfalto onde havia pouca circulação de gente e tirei um cochilo, enquanto o povo se aquecia, alongava, etc, eu achei melhor dormir, o que foi ótimo, acordei inteiro pra largada.
Contando com a previsão de chuva fiz um planejamento, bem otimista pra minha atual condição física, pra terminar a prova em cinco horas e meia, pra isso passaria no km 10 com uma hora e dez minutos de prova, no 20 com duas horas e meia e no 30 com três horas e cinquenta, pra então cumprir os 12,195 restantes em mais ou menos uma hora e quarenta minutos e concluir a prova com meia hora antes das seis horas que são o limite estipulado pela organização.
Largamos as sete em ponto e o sol já começava a dar sinais de que seria implacável, mas eu nem aí, to acreditando na chuva que segundo a previsão viria a partir da oito e vamos que vamos, o ritmo do Seabra é bem mais forte do que o meu, mas eu o sigo marcando a uns cinquenta, sessenta metros à minha frete até quase os cinco primeiros quilômetros, vou mantendo uma média de 10km/h numa batida confortável vou ultrapassando e sendo ultrapassado por vários amigos de corridas Brasil a fora a maioria ultramaratonistas também. To dentro da previsão e passo no km 10 com uma hora e oito minutos e nem sinal de chuva e o termômetro às oito da matina já marca 22 graus, to achando que o bicho vai pegar, no posto de hidratação aproveito pra ingerir gel de carboidrato e água, em provas longas assim é importante que você se mantenha sempre muito bem nutrido e hidratado, costumo levar comigo quatro saches de carbup em gel, sendo um pra cada dez km, no 10, no 20 e no 30 e um sobressalente para dar a alguém que no caminho esteja precisando, essa solidariedade não é exclusividade minha não, é comum entre nós corredores e esse é mais um dos motivos que me faz continuar cada vez mais apaixonado por esse esporte!
Passo pelo quilometro quinze e a essa altura já diminui o ritmo, o Seabra disparou na minha frente, pelos meus cálculos se ele continuar assim deve concluir a prova em cinco horas, mas eu preciso me manter fiel ao meu planejamento, o sucesso na conclusão de provas longas e com alto grau de dificuldade passa necessariamente por um bom preparo físico e um bom planejamento, mas principalmente por uma boa administração psicológica da prova, se a cabeça pifar você quebra e não há preparo físico ou planejamento que te façam terminar a prova.
No km 16 recebo o incentivo do pessoal da organização que nesse ponto está preparando a largada das provas da criançada, corridas de 2, 3, 4 km pra envolver toda a família uma iniciativa muito legal do SESC de Foz, depois desse ponto em pleno centro da cidade tem um descidão e entramos no km 17 que em contrapartida é um subidão que tem no final um vista sensacional, uma praça que traz bem no centro uma enorme e linda bandeira do Brasil, fixo o olhar no nosso “pendão da esperança” e faço a subida toda caminhando com passadas bem largas a mais ou menos 7km/h e enquanto subo vou cantarolando mentalmente o Hino da Bandeira, “salve lindo pendão da esperança, salve símbolo augusto da paz, sua nobre presença a lembrança, da grandeza da pátria nos traz...”, esses são truquezinhos que nos fazem esquecer o cansaço e seguir em frente, termino a subida ainda em ritmo de marcha forte, essa alternância entre caminhadas fortes e corrida pra quem não é tão bem preparado, como é o meu caso, é indispensável para recuperação do estado de equilíbrio entre respiração e passada e também para administrar o desgaste, assim eu utilizo esse recurso em subidas muito longas ou muito íngremes o que me ajuda a descansar enquanto venço a subida em vez de me desgastar mais ainda fazendo-a trotando por exemplo, como meu ritmo de caminhada é muito forte eu perco pouco tempo e consigo uma considerável recuperação física que me garante gás no final.
Volto a correr e logo passo pelo km 20 com duas horas e vinte e sete minutos de prova, perfeitamente dentro do planejado, mas daqui pra frente o bicho pega, a previsão do tempo estava redondamente enganada e agora temos certeza de que a chuva não virá mesmo, os termômetros já marcam 29 graus e tem um sol pra cada um, decido reduzir um pouco mais o ritmo o que psicologicamente é muito difícil de administrar porque essa decisão me joga pras últimas posições, não que eu me preocupe muito com isso mas, é muito difícil correr no último pelotão com a ambulância de resgate a poucos metros da sua bunda! Mas, com um calor desses é necessário pra que eu consiga me manter em pé até o final.
A essa altura o desafio é chegar ao km 30 bem porque daí pra frente é só terminar, do contrário se chegar aos 30 morto, você não passa do km 33 e aí a prova foi pro espaço. Como eu e o Seabra nos impusemos um desafio que é eu de fazer 500km em provas oficiais em 2009 e ele 1000km, nós não podemos deixar de concluir nenhuma prova longa no ano senão não cumprimos nosso objetivo, por isso planejarmos todas as provas pra um tempo bem próximo do limite máximo, assim evitamos desgastes excessivos e terminamos prontos pra próxima, afinal 500km dividido por 12 meses é o equivalente a uma maratona por mês e como eu comecei a minha contagem de quilômetros só em março, preciso participar e concluir todas e cada uma delas.
No quilometro 28 uma vista que mais parece miragem, quando não temos quase mais nada pra queimar e a água e o isotônico que os postos de hidratação distribuem parecem não fazer mais efeito, a organização preparou um mesão de madeira com montanhas de gelo e nelas incrustadas latas de coca-cola, o calor agora já chega aos 32 graus e o sol está a pino e encharcado de suor de cima a baixo eu desço uma latinha de coca num só gole e o ânimo que isso dá me leva bem mais rápido ao km 30 com a ajuda dos nada educados, porém providencias arrotos que só a boa e velha coca-cola sabe providenciar.
É no km 28 que encontro dois atletas desconhecidos o João, um cabo da PM de Foz que tenta sua primeira maratona e um outro senhor que não se apresentou mas que já é bem mais experiente em provas desse tipo, eles estão a ponto desistir achando que não terminam no tempo limite de seis horas, eu os encorajo e digo que meu planejamento está perfeito precisamos apenas passar no quilometro 30 com 4 horas de prova, a essa altura sem a chuva tão esperada e o calor inesperado eu já havia readequado o meu planejamento inicial pra conseguir terminar a prova dentro das seis horas e não mais dentro das 5:30 iniciais, seguimos a um ritmo que consome mais ou menos 8 minutos/km, vai dar, eles acreditam e me seguem, vamos conversando e vencendo cada etapa, caminhando nas subidas, que são muitas, é a maioria do percurso, e trotando nas retas e descidas, coloco pra eles como meta, alcançarmos sempre o próximo posto de hidratação que distam uns 3km um do outro então de água em água conseguimos terminar, mas, meus incentivos parecem surtir cada vez menos efeito e a nossa primeira baixa se dá com o senhor que não havia se apresentado, ele não mais consegue nos acompanhar, vai ficando pra trás e para, seguimos eu e o cabo João, passamos pelo km 30 com 3 horas e 58 minutos de prova, tento animá-lo dizendo que temos ainda duas horas e dois minutos de prova pra percorrermos apenas 12km, embora sejam estes os mais difíceis, pois já dentro do parque das cataratas são quase todos em subida, algumas realmente bem difíceis. Parece que ele também não se comove com os meus incentivos e no km 32 perco mais um parceiro de corrida que a exemplo do anterior não consegue mais me acompanhar nos trotes e sua caminhada vai ficando cada vez mais lenta e ele também para, é triste mas cada um sabe onde o calo aperta e é preciso saber respeitar os limites de cada um, sigo sozinho e agora a um ritmo bem melhor, vou ultrapassando vários competidores, me junto a um trio de atletas da marinha e sigo quase um quilometro com eles.
A todo tempo as ambulâncias passam por nós levando os desistentes para o posto de atendimento na chegada, o calor e as subidas da maratona mais difícil do país vão fazendo muitas vítimas, felizmente nenhum caso grave, só cansaço e desidratação mesmo.
Os marinheiros ficam pra trás e eu sigo a passos largos pro próximo posto de hidratação no km 36, nesse trecho em que as subidas castigam demais os atletas a organização, que, diga-se de passagem foi impecável, de longe a melhor de todas as provas de que já participei, tem uma idéia genial e coloca um pessoal que eu batizei de anjos da guarda, com motocicletas percorrendo o trecho e distribuindo água gelada abundante e a quem quiser entre os postos de hidratação, a medida é excelente, pois não ficamos a partir daí nenhum momento sem água, que usamos somente pra molhar a boca e jogar na cabeça, nuca e pulsos mantendo a temperatura do corpo tolerável até o final da prova.
Começo mais uma subida e lá no topo avisto alguém que me lembra o Seabra, mas não pode ser ele estava muito à minha frente, nesse ponto vou seguindo com a nossa amiga ultramaratonista Elisete, seu marido Antonio que não faz ultramaratonas já deve estar em vias de concluir a prova, vamos papeando e a prosa ajuda a disfarçar o cansaço, sigo bem e no posto de hidratação do km 36 alcanço a figura que eu assomara no topo da subida e não há de ver que é mesmo o Seabra, ele reduziu bem o ritmo e não se sente bem por isso precisa administrar a prova pra conseguir terminar dentro das seis horas, vai conseguir agora faltam apenas seis quilômetros, me ofereço pra seguir com ele, mas um atleta veterano como ele não se permitiria atrapalhar a minha prova e me toca pra que eu siga em frente já que estou bem mais inteiro nesse momento, eu bem que avisei a ele que 15 chopp era demais, eu só tomei 14, bem, sigo em frente e a Elisete que também vem num ritmo mais lento fica e lhe vem fazendo companhia.
A idéia do fim da prova me anima e aperto o passo, já é possível ouvir o estrondo que vem das cataratas do Iguaçu, pego um longo trecho sob a sombra das árvores que ladeiam a estrada do parque, o primeiro trecho de sombra em quilômetros e a proximidade com a queda d’água parece dar um alívio no calor essa combinação de fatores me faz lançar mão do gás final que economizei durante toda a prova e os quatro últimos quilômetros faço correndo, inclusive as subidas, num ritmo muito bom, as pessoas em volta aplaudem e dão força, agora venço a última subida no quilometro final a vista das cataratas é uma coisa incrível se eu fosse mais bunda mole eu chorava a emoção é enorme, sinto-me um gigante por conseguir terminar bem uma prova tão difícil e ao mesmo tempo sinto-me insignificante diante da enormidade dessa maravilha da natureza que são as cataratas do Iguaçu, largamos a 41km e pouco mais de 5 horas atrás vendo o show das águas que a mão do homem produz no lago de Itaipu e chegamos agora diante do espetáculo que é obra da natureza, muito sangue verteu das bolhas que formaram nos pés da maioria dos atletas, nos meus pés, dessa vez, felizmente não, muito suor verteu de todos os atletas e vemos muita, muita água que coincidentemente foi o principal combustível que nos fez vencer mais esse desafio.
A inspiração de Wanderlei Cordeiro de Lima que apadrinhou essa prova me faz cruzar a reta final fazendo o aviãozinho, uma humilde homenagem a esse atleta fantástico.
Termino a prova fisicamente muito bem em 5 horas e quarenta e seis minutos, mas a missão ainda não está cumprida, zero o cronometro e volto correndo pra encontrar os companheiros que vêm mais atrás e qual não é a minha surpresa, o primeiro que cruzo enquanto faço o caminho contrário é o senhor que não havia se apresentado e que me acompanhou lá nos idos do quilometro 28 e que aparentemente havia desistido, no final ele me contou que parou num carrinho tomou uma água de côco, descansou uns minutinhos e voltou à prova, segundo ele quando a água de côco fez efeito ele voltou a correr muito bem e conseguiu terminar a prova, que grata surpresa. Mais a frente a Elisete passa por mim e um pouco mais encontro o Seabra e volto com ele, nos aprumamos pra sair bem na foto e cruzamos correndo a reta final, nossas esposas lá com as máquinas a postos, mais um click e mais quarenta e dois quilômetros no cofrinho, to chegando nos 500 e o Seabra ta chegando nos 1000, vamos vencer essa meta na ultramaratona dos fuzileiros navais no Rio em novembro. A caminho da chegada passamos por uma senhora de uns sessenta anos mais ou menos que com cãibras fortíssimas vem se arrastando e termina a prova além das seis horas limite, mas termina, exemplo de raça e superação, mais um dentre tantos que presenciamos em cada prova.
Quanto a voltar pra encontrar o Seabra? Ah, nada mais fiz a não ser retribuir a solidariedade de um amigo que sempre termina na minha frente e sempre volta pra me dar força no final.
Desculpem pela extensão do texto, mas um relato de 42 km não tem mesmo com ser curto.
Sangue, suor e água, muita água, isso foi o que marcou a maratona das cataratas e me rendi a fazer-lhes esse relato, pois ontem assisti a reportagem da história de um tal de Manuel Uribe, um mexicano que chegou a pesar 560kg e um belo dia resolveu mudar a sua vida, procurem pela história dele na internet. Hoje ele mantem a fundação Manuel Uribe que se dedica a esclarecer as pessoas sobre o mal da obesidade, o slogan da sua fundação é “Se eu posso, você pode!”
Portanto amigos leitores, todos nós podemos levar uma vida mais saudável e feliz.

Um grande abraço a todos.

Raul Avelino.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Voltei, mas já me vou.

Olá milhares de amigos que nos acompanham neste Blog.

Estou de volta para dizer que estou me preparando para uma prova que acredito ser bem complicada nas praias de Floripa.
É a Praias e Trilhas: 2 maratonas. Uma sábado e outra no domingo. Até aí tudo bem.
Ocorre que ela é toda em areia fofa ou nas trilhas das montanhas que dividem estas pequenas praias. Ainda para facilitar a minha vida dunas no início do segundo dia e um trecho no tal de Costão do Santinho com travessia pelas pedras da encosta quando faltam apenas 9 km.
Acho que não vou gostar desta prova, mas tenho a certeza de que, ao fim, já começarei a planejar a do ano seguinte, pois é disto que nós gostamos.
Tomara que não esteja muito quente, pois eu sofro com calor.
Mas eu dizia que estava me preparando para esta prova, mas só descançando que é o tipo de preparação que meu a migo Raul segue a risca.
Estou com tantas dores na perna esquerda que resolvi hibernar até o dia e seja o que Deus quiser. Tenho dor na sola do pé, que vai sofrer barbaridade naquelas trilhas, dor na junta do calcâneo, dor no joelho, aliás, no joelho não é privilégio do esquerdo, o direito também dói.

O que me conforta é que, no fim do primeiro dia todos os atletas estarão com tantas dores como eu. Aí, quem sabe, eu que já estou acostumado, passo todo mundo e ganho a prova!!!!!!
Estou planejando fazer para 8hs e 10' o primeiro percurso e 9hs e 30' o segundo.

Fica a meta. Agora vamos ver se consigo.

Até a volta, se sobreviver a mais esta.
Um ultrabraço e "Bora Corrê"
Seabra.